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Câncer de Mama e Biópsia do Linfonodo Sentinela: Sempre é Necessário?

Introdução

Quando falamos de câncer de mama, muita gente já ouviu o termo “linfonodo sentinela”. Ele é o primeiro linfonodo (ou gânglio) para onde as células do câncer podem se espalhar a partir do tumor.

A biópsia desse linfonodo ajuda os médicos a saber se a doença atingiu a axila e a planejar o tratamento.

Mas, com os avanços da medicina, hoje já se discute se todas as mulheres precisam fazer essa biópsia. Para alguns casos muito específicos, talvez possamos evitar o procedimento — poupando a paciente de riscos e desconfortos — sem perder segurança no tratamento.

O que é a biópsia do linfonodo sentinela?

É uma pequena cirurgia feita junto com a retirada do tumor da mama. O médico injeta um corante ou substância radioativa perto do tumor para localizar o linfonodo “guarda-costas”. Esse linfonodo é removido e analisado. Se ele não tiver câncer, é bem provável que os outros também não tenham.

Vantagem: é menos agressiva que tirar todos os linfonodos (dissecção axilar).
Risco: ainda pode causar dor, inchaço no braço (linfedema) e perda de movimento no ombro.

Por que pensar em evitar a biópsia?

Hoje já sabemos que nem sempre o resultado da biópsia muda o tratamento. Em mulheres pós-menopausa, com câncer de mama receptor hormonal positivo (RH+), HER2 negativo, tumor pequeno e axila normal no exame físico e ultrassom, o tratamento pode ser decidido com base em um teste genômico — e não no resultado da biópsia do linfonodo.

O papel dos testes genômicos

O teste mais conhecido é o Oncotype DX. Ele analisa a atividade de alguns genes do tumor e dá uma pontuação (Recurrence Score) que indica o risco de o câncer voltar e se a quimioterapia pode ajudar.

Grandes estudos mostraram que:

  • Em mulheres pós-menopausa com pontuação 25 ou menos, a quimioterapia não traz benefício — mesmo que 1, 2 ou até 3 linfonodos estivessem comprometidos.
  • Nessas situações, a paciente pode ser tratada apenas com hormonioterapia.

Isso significa que, se já sabemos que não haverá quimioterapia, talvez a biópsia não mude a conduta.

Importante no contexto brasileiro: embora o teste genômico tenha custo inicial elevado (R$ 20 mil em média), o custo total da quimioterapia em pacientes de baixo risco pode ser muito maior. Ao somar:Medicamentos de suporte (G-CSF, antieméticos, antibióticos).Internações por complicações.Transporte para as sessões.Perda de produtividade e impacto emocional.

O teste pode, em alguns casos, ser mais econômico e benéfico, reduzindo tratamentos desnecessários e seus efeitos colaterais.

Pesquisas que apoiam essa ideia

Dois estudos importantes testaram não fazer a biópsia em casos de baixo risco:

  • SOUND (Itália): comparou fazer ou não a biópsia em mulheres com tumor pequeno e ultrassom normal da axila. O resultado foi igual em termos de controle da doença, mas sem biópsia houve menos complicações.
  • INSEMA (Alemanha): resultado parecido, mostrando que a segurança foi mantida e a qualidade de vida foi melhor sem a biópsia.

Quando podemos pensar em não fazer?

O cenário mais seguro é:

  • Mulher pós-menopausa.
  • Câncer RH+/HER2-.
  • Tumor até 5 cm.
  • Axila sem alterações no exame físico e ultrassom.
  • Cirurgia conservadora com radioterapia da mama inteira.
  • Teste genômico mostrando pontuação 25 ou menos.
  • O resultado do linfonodo não muda:
    • a indicação de radioterapia,
    • o tempo de hormonioterapia,
    • ou o uso de medicamentos específicos como inibidores de CDK4/6 (ex.: abemaciclib, ribociclib).
Atenção para pré-menopausa: não se recomenda omitir a biópsia de rotina nesse grupo, mesmo em casos de baixo risco clínico. 

Estudos como SOUND e INSEMA incluíram poucas pacientes pré-menopausa (cerca de 12%), e no estudo RxPONDER esse grupo ainda apresentou benefício com quimioterapia, possivelmente pelo efeito da supressão ovariana.

Além disso, o status nodal pode influenciar decisões sobre radioterapia e terapia endócrina.

Quais são as vantagens?

  • Menos risco de inchaço no braço.
  • Recuperação mais rápida.
  • Menos tempo no centro cirúrgico.
  • Evitar um procedimento que não traria ganho no tratamento.

E quais os cuidados?

Nem todas as pacientes podem abrir mão da biópsia.
O resultado do linfonodo ainda é importante:

  • Para decidir radioterapia na axila e clavícula.
  • Para saber se a paciente pode receber medicamentos adicionais além da hormonioterapia.
  • Para calcular o risco e indicar hormonioterapia por mais de 5 anos.
  • Em tipos de tumor como o carcinoma lobular, onde os testes genômicos podem não prever tão bem o benefício da quimioterapia.

Diferença entre Brasil, Europa e EUA

  • Europa: tendência maior de evitar a biópsia em casos de baixo risco, seguindo critérios de estudos como SOUND e INSEMA.
  • EUA: uso mais amplo de testes genômicos, mas ainda mantendo cautela para omitir a biópsia em muitos casos.
  • Brasil: custo elevado dos testes e cobertura limitada no sistema de saúde, mas com potencial de economia se evitarem quimioterapias desnecessárias.

Resumo prático

Se a paciente se encaixa no perfil de baixo risco clínico e genômico, e o resultado do linfonodo não vai mudar outras decisões, é possível considerar não fazer a biópsia.

Mas essa decisão precisa ser tomada em conjunto (paciente e equipe médica), avaliando todos os riscos e benefícios.

Mensagem final

A medicina caminha para tratamentos cada vez mais personalizados.

Em alguns casos, isso significa fazer menos, mas com a mesma segurança.

Para a mulher que está passando por essa decisão, a chave é a conversa aberta com seu mastologista e oncologista — para entender se ela se enquadra nesse grupo e qual é a melhor escolha para o seu caso.


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Observação: Este conteúdo tem caráter informativo, com base nas melhores evidências científicas disponíveis. Não substitui consulta com seu médico mastologista

Dr. Idelfonso Carvalho é um renomado profissional cuja carreira multidisciplinar reflete um profundo compromisso com a saúde e o bem-estar humano. Com uma impressionante formação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (2002) e em Direito pela Universidade Regional do Cariri (2018), Dr. Carvalho construiu um percurso profissional notável, destacando-se em diversas especialidades médicas e contribuindo significativamente para a área da saúde em várias capacidades.

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