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A hormonioterapia pode substituir a cirurgia em idosas?

A revisão sistemática realizada pela Cochrane em 2017 analisou sete ensaios clínicos para comparar a terapia endócrina primária com a abordagem de cirurgia seguida de hormonioterapia no tratamento do câncer de mama em pacientes com mais de 70 anos. Este estudo é particularmente relevante devido à sua abrangência e ao foco na população idosa, um grupo demográfico importante na oncologia.

Os ensaios clínicos incluídos na revisão envolveram um total de 1076 pacientes, proporcionando uma amostra significativa para análise. A principal descoberta foi que houve uma sobrevida livre de doença maior no grupo tratado com cirurgia, indicando que a remoção cirúrgica do tumor seguida de hormonioterapia pode ser mais eficaz em prevenir a recorrência da doença em comparação com a terapia endócrina primária.

No entanto, a revisão também constatou que não havia diferença significativa na sobrevida global entre os dois grupos. Isso sugere que, embora a cirurgia possa oferecer melhores resultados em termos de sobrevida livre de doença, ela não necessariamente se traduz em uma extensão da sobrevida global para todos os pacientes.

Com base nesses achados, a Cochrane concluiu que a hormonioterapia primária é uma opção viável para pacientes com tumores com receptores hormonais positivos que não desejam se submeter à cirurgia ou que têm condições clínicas que contraindicam a operação. Esta conclusão é significativa, pois oferece uma alternativa menos invasiva para pacientes que, por várias razões, podem não ser candidatos ideais para a cirurgia.

Em resumo, a revisão da Cochrane destaca a importância de considerar as preferências do paciente e as condições clínicas na escolha do tratamento para o câncer de mama em pacientes idosos. Ela reforça a noção de que a terapia endócrina primária pode ser uma escolha apropriada para certos pacientes, equilibrando eficácia e qualidade de vida.

O ensaio clínico conduzido por Fennessy et al., publicado em 2004, fornece informações valiosas sobre o tratamento do câncer de mama em pacientes idosos. Este estudo focou na comparação do tempo para falha de tratamento entre duas abordagens: uso de tamoxifeno como terapia primária versus a combinação de cirurgia seguida de tamoxifeno. A pesquisa incluiu 455 pacientes com mais de 70 anos, que foram randomizados em dois grupos e acompanhados por um período extenso de 12 anos.

Os resultados deste estudo revelaram que o tempo até a falha do tratamento foi significativamente menor no grupo que recebeu apenas tamoxifeno. Além disso, este grupo estava associado a uma maior taxa de mortalidade geral e mortalidade específica por câncer de mama. Essas descobertas indicam que, embora o tamoxifeno seja eficaz, ele pode não ser tão eficiente quanto a abordagem combinada de cirurgia seguida de terapia com tamoxifeno, em termos de prolongar o tempo até a falha do tratamento e reduzir a mortalidade.

Um aspecto interessante observado no estudo foi que as curvas de sobrevida entre os dois grupos de tratamento não mostraram diferença significativa nos primeiros três anos. Isso sugere que para pacientes com expectativa de vida limitada, o tamoxifeno como terapia primária pode ser uma opção viável. Essa inferência é particularmente relevante para a prática clínica, pois oferece uma alternativa de tratamento menos invasiva para pacientes que podem não ser candidatos ideais para cirurgia devido a sua saúde geral, idade avançada ou outras comorbidades.

Em resumo, o estudo de Fennessy et al. destaca a importância de considerar a expectativa de vida e as condições gerais do paciente ao escolher o tratamento para o câncer de mama em idosos, enfatizando que o tamoxifeno sozinho pode ser adequado para pacientes com uma expectativa de vida mais curta, enquanto a combinação de cirurgia e tamoxifeno pode ser preferível para aqueles com uma expectativa de vida mais longa e condições favoráveis para a cirurgia.

O ensaio clínico GRETA, realizado em 2003, foi uma pesquisa significativa na área de oncologia, especialmente no tratamento do câncer de mama em pacientes idosos. Neste estudo, foram randomizados 474 pacientes com mais de 70 anos em dois grupos distintos para comparar duas modalidades de tratamento: um grupo recebeu apenas tamoxifeno, enquanto o outro grupo foi submetido à cirurgia seguida de tamoxifeno.

Os resultados do estudo GRETA revelaram que houve uma maior taxa de progressão da doença no grupo que recebeu somente tamoxifeno, em comparação com o grupo que foi tratado com cirurgia seguida de tamoxifeno. No entanto, é importante notar que não houve diferença significativa em termos de sobrevida global entre os dois grupos, independentemente da extensão da cirurgia realizada.

A conclusão principal do ensaio GRETA foi que, para pacientes idosos com câncer de mama, a abordagem de tratamento mais apropriada parece ser a realização de uma cirurgia mínima, seguida de hormonioterapia com tamoxifeno. Esta conclusão é especialmente relevante pois oferece uma direção clara para o tratamento de câncer de mama em uma população mais velha, equilibrando eficácia e qualidade de vida, ao sugerir que procedimentos cirúrgicos menos extensivos, combinados com hormonioterapia, podem ser uma estratégia eficaz e menos invasiva.

O tratamento do câncer de mama em pacientes idosos requer um plano de tratamento personalizado baseado na condição clínica de cada paciente. Para aqueles em condições favoráveis, com mais de 70 anos, tratamentos cirúrgicos convencionais, como mastectomia ou cirurgia conservadora seguida de radioterapia, são considerados apropriados e eficazes. Esta recomendação se baseia na eficiência desses procedimentos em termos de sobrevida global e controle local do tumor, além do baixo risco de complicações associadas. No entanto, para pacientes idosos não favoráveis à cirurgia, devido a comorbidades ou expectativa de vida reduzida, a individualização do tratamento é crucial. Nesses casos, a hormonioterapia primária surge como uma alternativa viável, controlando a doença com um perfil de risco reduzido. 

A hormonioterapia é frequentemente usada no tratamento de certos tipos de câncer de mama, especialmente aqueles que são hormônio-receptivos, como os tumores luminais. No entanto, se ela pode substituir a cirurgia depende de vários fatores, incluindo o estágio e as características específicas do tumor, bem como a saúde geral e preferências do paciente.

Em alguns casos, a hormonioterapia pode ser usada como tratamento neoadjuvante (pré-cirúrgico) para diminuir o tamanho do tumor, o que pode tornar a cirurgia menos extensa ou até mesmo possibilitar uma cirurgia conservadora da mama. Em outros casos, particularmente em pacientes mais velhos com comorbidades significativas que os tornam inadequados para cirurgia, a hormonioterapia pode ser usada como a principal modalidade de tratamento.

É importante notar que a decisão de usar hormonioterapia em vez de cirurgia deve ser tomada por uma equipe de especialistas em oncologia, levando em consideração todos os aspectos do caso do paciente. Recomenda-se a discussão com um oncologista para entender as melhores opções de tratamento para casos específicos de câncer de mama luminal.

Dr. Idelfonso Carvalho é um renomado profissional cuja carreira multidisciplinar reflete um profundo compromisso com a saúde e o bem-estar humano. Com uma impressionante formação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (2002) e em Direito pela Universidade Regional do Cariri (2018), Dr. Carvalho construiu um percurso profissional notável, destacando-se em diversas especialidades médicas e contribuindo significativamente para a área da saúde em várias capacidades.

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